domingo, 29 de junho de 2008
Helenice Reis Rocha, Poeta e Musicista
Imagem:Helenice Reis Rocha, Poeta e Musicista, formação em Letras na UFMG, fotografada por Marco Llobus, em sua dela,quando foi entrevistada por nós para o livro-Álbum POIETISAS, projeto aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, MG .
Marco e eu fotografamos um ao outro para registrar o trabalho.
Nome :Helenice Maria Reis Rocha
Meus Pais:Aluísio Rocha e Ondina Dos Reis Rocha
Nacionalidade:Brasileira
Formação:Mestre em Letras com Área de Concentração em Poéticas da
Modernidade pela UFMG e Especialista em Música com Área de em Educação
Musical pela UFMG
Clevane:Em sua vida,é mais fácil ser poeta ou musicista?
HRR:A linguagem musical é mais fácil para mim porque a convenção desta
linguagem é muito lúdica O signo verbal exige um nível de reflexão
muitas vezes angustianteA produção de sentidos em qualquer língua
escrita exige um nível de engajamento que tensiona a mente Na
experiência musical dá-se o contrário Relacionar-me mentalmente com
sons e rítmos me transporta para um espaço psíquico de total
relaxamento,bem alfa,que me retroalimenta para a vida Gostaria de
transmitir esta experiência como educadora,levar as pessoas que gostem
de música a vivenciar a linguagem musical criando e saindo um pouco
deste nosso mundo conturbado para uma dimensão de silêncio,já que a
vivência do som é mental(como na leitura silenciosa) e de harmonia
2-Quais as bases da sua formação de musicista?
Desde muito cedo(três,quatro anos de idade) ouvia tocarTrabalhei,um
pouco mais tarde(dos dez aos trinta anos) todas as noites como
assistente dele que era concertista de experiência
internacionalOuvi,trabalhando,quase todo o leste europeu(Bella
Bártok.,Kuhlau,George Enesco,Stravinsky,Kachaturian....) Além de
Bach,tenho aqui em casa todas as transcrições de papai de violino para
harmônica(gaita) Além de Villa Lobos e Radamés,que dedicou dois
concertos para papai Fui muito musicalizada também por minha mãe que é
cantora amadora e cantou lindamente durante toda a vida,toda a tradição
oral brasileira Tudo o que estudei no Mestrado(trabalhei com a tradição
oral)já tinha ouvido minha mãe cantarAgora,com a Especialização,posso
uir os ventos do Leste e as canções de nossa tradição popular,de
lavadeiras,dos africanos,indígenas, enfim,tudo o que soa e que tem
rítmo.Estudei Acordeon(Dos sete aos dez anos e violão clássico com
Nelson Piló( Assistente do Radamés e do Villa) e com Walter
Alvez,durante toda a adolescência até uns vinte e sete anos
CPAL:3- A partir de que momento sentiu-se Poeta?
HRR: No meio do meu Mestrado
estava trabalhando com Raul Bopp( Minha dissertação é:Sinais de
Oralidade:A transfiguração da Voz em Cobra Norato) Estudava o dia
inteiro e,no meio da noite,começava a escrever,sem parar,e sentia-me
leve,livre,meio fora do mundo dentro dele Mas comecei a fazer poesia
com nove anos Escrevia para as professoras do colégio,no quadro
negro,elas se reuniam na sala de aula,no recreio,e liam comigo a poesia
que ia fluindo para o quadro.
Clevane: 4-Pertence a alguma academia ou agremiação? De que forma a literatura
entra na sua vida?
HRR:Prestei vários serviços em Congressos
da ABRALIC(Associação Brasileira de Literatura Comparada)com
participações em Congressos Internacionais e respectivas publicações
Estou afastada desde o ano passado e este ano também não participei de
nada mas tenho todas as minhas publicações aqui em casa Publiquei
também no CESP (Centro de Estudos Portugueses da UFMG) e na revista EM
Tese .Guardei estas publicações
CPAL:5-Escreve em qualquer momento ou necessita de algo especial ? E para
compor?
HRR: Sempre que escrevo ou componho estou em estado de paixão Pela
vida,pelas pessoas,por tudo Sou uma pessoa em estado de paixãoAcordo
todo o dia com um nascer do sol de arrepiar aqui neste apartamento e
digo para mim mesmo,amo,a tudo e a todos
6-Comente um pouco da sua experiência poética
(Seminários,dissertações,publicações,viagens)Trabalhei com Raul Bopp na
minha dissertação,um livro chamado Cobra Norato e li para dar conta
deste trabalho,muitos mitos serpentários,que são mitos que dizem
respeito a toda a relação ética que o homem indígena estabelece entre
natureza e sobrevivência Este poema,Cobra Norato,foi considerado o nono
poema mais bonito do mundo mas questionei o tempo todo os modos de
apropriação de uma cultura letrada(no caso o modernismo) em relação com
a cultura indìgena no sentido de explicitar os conflitos advindos deste
intercurso e o sentido destes conflitos na configuração de um fato
literário que reuniu muitas diferenças sérias e dramáticas no bojo de
seu projetoViagei para o rio com a ABRALIC apresentando Guimarães Rosa
com um trabalho sobre a dimensão tautológica da linguagem do Rosa no
que esta dimensão tem de reprodução da logica de um discurso hegemônico
Um dos trabalho se intitula As Veredas da Palavra:Uma Tautologia do
Sertão No Rio Grande do Sul,apresentei e publiquei um trabalho sobre os
modos de apropriação e retradução que os cordelistas fazem do fabulário
europeu....tenho comigo estes trabalhos e estão nos Anais da ABRALIC
Clevane:7-Trace sua visão de estilo tanto para a Músico como para a
Poesia.
Helenice:Acredito que estilo tanto para o poeta como para o músico é
aquele traço de linguagem que o torna inconfundível e singular
Diferente de todos os outros Marcado por uma auto referencialidade que
o distingue como traço.
8-No momento dedica-se a escrever algo?O que?Algum projeto?
Helenice Rreis Rocha:Componho
todo dia .Sou refém da Composição .A música livra a minha cara inclusive
de pirar porque é uma linguagem que exige ao mesmo tempo disciplina e
levezaQuando comecei o adágio que você me motivou (*),fui transportada para
a sua leveza,a leveza do seu nome,da sua alma .Isto me salva Penso em
todas as pessoas que são ícones de coragem e diginidade quando faço
música . Isto me salvaProjeto? Escrever um manualzinho de Harmonia Musical
para Crianças.
Clevane Pesoa:9-Quais as pessoas ,em sua família e fora dela que a influenciaram ou
incentivaram?Alguém tentou desestimulá-la?
HRR:Ninguém na minha família
entendeu muito nossas vidas Trabalhávamos mais de quinze horas por
dia,papai e eu,e ele saia para tocar(Estados Unidos,Europa...)A minha
casa ficava cheia de músicos amigos dele por algum tempo e a gente
trabalhava quando não tinha ninguém Ninguém tinha nem condição de
estimular ou desestimular Acho que não dava para os parentes nem
decodificarem
(*) Helenice presenteou-me com um adágio, ao qual intitulou "CLEVANEIOS",pelo que sou-lhe muito gata.Fiquei encantada
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