Abaixo:O poeta ,fotógrafo e jornalista João Evangelista Rodrigues.
JOÃO EVANGELISTA RODRIGUES - ARCOS (MG)
em Arte :: Poetas
João Evangelista Rodrigues, 55, nasceu em Arcos (MG), na cabeceira do Rio São Francisco. Jornalista, escritor, compositor, fotógrafo e poeta. Autor de livros como "O Avesso da Pedra",( 1981) "Mutação dos Barcos" ,( 1989) " A Oeste das Letras" ( 1999) e "Transversias", ( 2003), folhetos de cordel, tendo , ainda, participado de várias antologias. Como compositor, é parceiro de Paulinho Pedra Azul, Téo Azevedo,Gilvan de Oliveira, Pereira da Viola, Joaci Ornelas, ZÉ Neto, Cid Ornellas, Rubinho do Vale, Zé Baliza , entre outros; Formado em Filosofia e Jornalismo . Foi diretor da Casa do Jornalista , Diretor Secretário Geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais e Superintendente de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. Atua como agente cultural, com particular interesse pela cultura popular. Atualmente é professor de Legislação e Ética em Jornalismo na PUC Minas Arcos, na qual exerce o cargo de Coordenador do Curso de Jornalismo e Gestão da Comunicação Integrada.
Este texto é da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE, com uma pequena adaptação.
Clevane entrevista João Evangelista Rodrigues:
1)QUANDO A POESIA ENTROU EM SUA VIDA?E A FOTOGRAFIA?
Bem, a primeira vez que senti vontade de escrever um poema, tinha 14 anos. Mas a poesia mesmo, acho que esta me acordou bem mais cedo com o cantar dos galos e o cnato dos pássaros. Nasci na roça , em uma pequena fazenda dp interior de Minas. Aprendi bem cedo a liberdade do rio e do vento. Foi assim que resisti a todas as tentativas de domesticação, não deixei me metrificar nem pela escola , nem pela família nem pelas outras formas de condicionamen to. Depois voltei a escrever aos 18 anos e , daí para frente, nunca mais parei. Vida e poesia andam juntas em mim, em cada coisas que faço e penso, mesmo quando, aparetemente, não estou pensando nela ou a ela me dedicando.Poesia é uma forma de ser.Uma visão de mundo. Forma de sentir e de se manifestar verbo-voco-visual. É solidariedade e comunhão com os seres, pessoas e todas as coisas do planeta.Do cosmos. Já a fotografia, esta veio mais tarde, com a quase cegueira eo desejo de pegar as formas, as cores de maneira mais concreta. Foi a corporificação das imagens poéticas. Da poesia para a fotografia só tive de aprender a manejar o equipamento.Tudo são maneiras de escritas.De mergulhar no mundo e revelar seus contornos e abismos mais sutis.
2)SENDO COORDENADOR DO CURSO DE COMUNICAÇÃO DA PUC DE ARCOS MG, COMO VC CONCILIA AS ATIVIDADES ARTÍSTICO LITERÁRIAS (FATOR TEMPO) À PRIMEIRA?
Acho que se dependesse de tempo e de conciliações , a poesia já teria me abandonado.Sou péssimo amante, um namorado afobado com as atribulações e caprichos do mundo. Mas descobri que a poesia me amava e , desde então, procuro me dedicar a ela sempre que posso.Nos intervalos.Acho mesmo que a a vida que vale a pena é vivida nos intervalos, nos vieses, nos estreitos dos dias da existência curta e demorada que a vida assim tão tragicamente transitória.Fotografo a poesia.
Diria que procuro fazer de cada poema uma foto e de cada foto um poema.Pelo menos é o que tenho tentado fazer.
É esta luta que me tem mantido vivo.
3)DENTRE SEUS LIVROS HÁ ALGUM ESPECIAL?
Talvez o que escreverei algum dia. De verdade mesmo, gosto de todos, cada um a seu tempo, a seu modo, por razões as mais diversas. É através de um que chego ao outro. Penso , como Jorge Luis Borges, só exista um livro , todos os demais são formas especulares, simulacros, sobras em espelho embaçado. São os livros que conseguimos realizar, por isso, acho importante amá-los , mesmo imperfeitos.
E AGORA,(APENAS SE QUISER FALAR DESSA CIRCUNSTÂNCIA, OK?)O QUE TEM SIGNIFICADO PARA VOCÊ TER PROBLEMAS DE VISÃO E DEDICAR-SE TÃO BRILHANTEMENTE ÀS CHAMADAS DE SUAS VOCAÇÕES(MÚSICA, TEATRO, LITERATURA, FOTOGRAFIA?)NO MUNDO ATUAL, ALGUNS FOTÓGRAFOS VÊM REALIZANDO TRABALHOS INCRÍVEIS, APESAR DA DV(*).VOCÊ TEM ACOMPANHADO ESSA TRAJETÓRIA?
Passado o susto inicial e o período de adapatação levo uma vida normal. Até gosto de ver as coisas distorcidas, meio incompletas.Afinal é assim mesmo o conhecimento humano. Aprendi muito com a promessa de cegueira- tinha trinta anos e estava concluindo o curso deJornalismo na PUC Minas e já havia feito o curso de Filosofia : descobri que era limitado e que precisava conviver com esses limites. Depois foi me acostumando com as noramas formas de ver e de agir , de esgueirar-me por entre as quinquilharias do mundo.As burocracias e os meandros dos podres poderes são mais tortuosos e traiçoeiros. Recebi muita solidarieade de amigos e, com isso, nem no dia que foii ao oculista e que fiz a sirugira deixei de escrever.Comecei a ir m ais ao teatro, às palestras, às apresentações muisicais.A conversar mais com as pessoas. Descobri as formas das coisas, passei a me deter mais nas formas, nas cores, na textura.Descobri, enfim, que tinha ouvidos, olhos , tato e paladar.
Mais tarde descobri Jorge Luis Borges, Milton.Reparei que vários escritores importantes eram ou ficaram cegos e , portanto, resolvi que a vista não seria o problema.O problema mesmo era a escritura. O texto.
Resisti ao computador um pouco como quase todos de minha geração depois descobri nele enermes possibilidades. Assim, vi nele um aliado. Leio muito todos os dias.Se a letra for pequena amplio tanto na tela do monitor quanto no papel através de xerox.Às vezes tiro xerox do livro inteiro.Compro , tiro xerox ampliado e leio.Adeus direitos autorais, mas , pelo menos neste caso , a razão é justa.,
Não ´é por acaso que existem vários verbos para designar os atos da visão: ver, enxergar, intuir e olhar. Quer souber ler que leia.Tenho acompanhado sim e acho legal que as pessoas se mostrem como são e não se envergonhem e não se excluam por si mesmas. Precisamos mesmo abrir as janelas todas da alma e ver de corpo inteiro a corporificação transfiguradora e tranasfigurada de tudo que nos rodeia.
É preciso esclarecer, entretanto, que , atualmente, minha visão pouco me atrapalha.Só mesmo se as letras forem muito pequenas ou condensadas, como adora as editoras ávidas por lucro .No mais faço de tudo ando de bicicleta- e muito – jogo , nado e corro . Cobro às vezes das pessoas arrogantes e auto-suficientes, daquelas que, por vários motivos, se consideram muito normais.
Um grande abraço.
João Evangelista Rodrigues
(JOAO,ESSA ÚLTIMA PERGUNTA,RESPONDA APENAS SE O DESEJAR, POIS SEI QUE A DV NADA SIGNIFICA EM RELAÇÃO À EXCELÊNCIA DE SUA OBRA)...
UM ABRAÇO CORDIFRATERNO, DA CLEVANE
(*)DV:Deficiência visual
clevane pessoa de araújo lopes
Publicado no Recanto das Letras em 12/10/2005
Código do texto: T58925
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• Poemas •
Convite aos Violeiros
eu convido os violeiros
de São Paulo e de Goiás
em nome de Tião Carreiro
dos violeiros das Gerais
eu convido os brasileiros
não é pra fazer cartaz
meu convite é verdadeiro
cada violeiro traz
mais um novo violeiro
pra mostrar tudo o que faz
violeiros da Bahia
Mato Grosso e Paraná
do Rio Grande do Sul
Tocantins e Ceará
Maranhão e Pernambuco
do Amazonas ao Pará
o Distrito Federal
também vai participar
eu convido os violeiros ...
violeiro vem sorrindo
vem de longe festejar
defender o arco-íris
o direito de cantar
em defesa da viola
da cultura popular
a fé a fauna e a flora
do sertão a beira-mar
eu convido os violeiros ...
violeiro vem no grito
pelo jeito de chamar
do Rio Grande do Norte
de Rondônia e do Pará
Bela e Santa Catarina
Também não podem faltar
cantadores e romeiros
missioneiros sem lugar
eu convido os violeiros ...
não me esqueço do Acre
qualquer dia eu canto lá
berimbau e atabaque
dá o tom do guerrear
pedra furada e tacape
sanfoneiro manda entrar
reunião de violeiro
vai dar muito o que falar
eu convido os violeiros ...
quem ouvir esse convite
não precisa confirmar
tire a viola do saco
e comece a pontear
se achegue companheiro
não precisa de chamar
em casa de violeiro
sempre tem mais um lugar
eu convido os violeiros ...
não se espante meu parceiro
com o que eu vou falar
lá vem o Trem da História
quem quiser tente pegar
no bojo de uma viola
violeiro transporta o mar
todo o povo brasileiro
reunido vai cantar
arcos, 22 de maio de 2 006
de minha parte
de minha parte
prefiro escritores sem papel
desses que no vazio
reescrevem o caos
sobrenadam oceanos adormecidos
subvertem
escritores de coisa nenhuma
de desimportâncias humilhadas
em estado de decomposição
árvores apodrecidas
no interior das dunas
máquinas enferrujadas
sucatas
letras
mapas imemoriais cidades
escritores de vidro
escritores desescritos
por outros escritórios
escritores proscritos
sem igrejas nem oratórios
nem mineiros nem maiores
sem letreiros apriores
sem livros
nem prolabores
desses que ao léu
em luas sem alma se repetem
pelos corredores
entre os desconstrutores de Babel
escritores virtuais
aleatórios
de minha parte
prefiro escritores sem papel
poema (s/título)
os de 45
declaram guerra
aos de 22
os concretos
atiram pedra
contra os de 45
todos atiram merda
contra todos
contra tudo
o que vem após
nem de longe
espiam pela janela
a lua parnasiana
o signo da poesia pisca
entre neon e nada
a mesma letra escrita
a mesma letra escusa
a mesma letra escassa
a mesma luta insana
clava tupiniquim
a roupa suja
o varal da esquina
o marketing
em sangue
marginal floresta
a luta não termina
entre mortos e feridos
seja o que o leitor quiser
ninguém se salva
salve-se quem puder
FONTE:http://www.paragonbrasil.com.br/conteudo.php?item=2338
domingo, 1 de agosto de 2010
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