domingo, 20 de janeiro de 2008

CRônica de Clevane Pessoa a partir de soneto de João Justiniano

20/01/2008 10h19
Um soneto de João Justiniano e minha crônica domingueira.

Acordo,domingueira , lá fora a umidade da madrugada chuvosa.
Cuido de mim , de tudo que é vivo aos meus cuidados:o cãozinho Lucky, as plantas, nos beirais, alimento para os pardais, as rolinhas.
E, no meu "hospital de plantas"-uma cancada onde deixo vasos com verdinhas que precisam recuperar a cor, galhos a serem entalados entre paus de fósforos, de adubação, etc-coloco um pedacimho de bolo.As formiguinhas em breve, descobre.

Abro o PC.Delasnieve Daspet, Embaixadora de Poetas del Mundo, envia o soneto do João Justiniano.Aliás, eu só soube que era soneto, quando o colei aqui, pois no corpo do e-mail, desconfigurado, conforme muitas vezes ocorre,ele veio longilineo,quase palavra abaixo de palavra.
Li e achei muito interessante.Claro, tudo que fala de asas (os leitores sabem que asas, água e lua são recorrentes em meus poemas- desde que eu era menina- me chamam a atenção).Mas há algo mais:há tempos, por ser psicóloga e também intuir, quais todas as mulheres, as histórias que se somam e subtraem na Internet.

Muitos amores e até paixões surgem.A amizade e a solidariedade florescem.Entre pessoas a quem já jamis se viu, sentiu o cheiro, beijou a mão, a boca, ou segurou nos braços.Muitos fazem amor apenas com a força cabalística da palavra.Muitos até se dizem Poetas, embora não o sejam , muitas vezes lançando borrifos sobre uma boa prosa, porque passam a escrever versos.Montadores de vocábulos, rimas,formas.De vez em quando, produzem algo de maior valia.E, no meio da casata dos Poetas verdadeiros, quem não aprenderia?Mas por que querem falar em versos?Ora, porque a Poesia é a língua dos apaixonados, que sempre buscam inovar-se, recriar-se e recriar o outro.É a língua dos anjos.A dos espiritualistas, dos crentes,dos mpísticos, dos mágicos e das feiticeiras.O próprio conceito de Deus exige um esforço poético.

E o interessante na Internet, é sua mágica, ou mesmo sua magia:quem explica de onde vem esse poder que se passa a ter? Idade passa a ser dado secundário, às vezes, até omitido.( O poeta João Justiniano, abaixo, quando fala de forma universal, generalizada e indireta sobre a relações do sêr- dele próprio também -com o espaço de ser, escreve:"o tempo não me importa, nem a idade".E esse é o grande atrativo do espaço cibernetico.Nele, as pessoas são.Gênero,raça, idade, tornam-se fatores secundários num relacionamento).
Profissionais estressados podem se dizer surfistas.Trilheiros poem se informar doutores.Impotentes podem viver sua maior potência, que é a mental e fazer amor conforme fazem os que sabem.

O imaginário é tão amplo, que é mesmo imensurável:sem limites, sem limitações.
É evidente, se tantos precisam de máscaras e muitas personas, muitas vezes dividido porque deseja multiplicar-se,há os que são, embora impalpáveis no sentido físico, verdadeiros, elas mesmas :pessoas que, muitas vezes, experenciam , pela primeira vez, o direito de expressão.Donas de casa ousam .Velhos e novos provedores de casamentos falidos, abrem outras comportas e passam a suprir-se .E a suprir quem está do lado de lá.Há uma onda de adultério não caracterizado legalmente, que pode beijar as areias de praias na amorosidade incondicional, mas também podem provocar Tsunamis -e trazê-las qual uma catástrofe.Uma paciente minha queixou-se:"Encontrei o fulano escrevendo um e-mail picante e com uma bruta ereção.Depois, decerto, ia se masturbar.E comigo, sua esposa, do lado".Chorava a ponto de sufocar-se.

Pela telinha, há, na maioria das vezes, a certeza de que pecado não existe.E soltam asas.Alados, voam um até ao outro.E dentro desse enfoque de solidão, já há a traição internética;"Ela (ou ele ),se correspondia, com o mesmo nick (ou com nicks vários!), com muita gente e eu já estava apaixonado (a) "...Parece gravíssimo, ao traído.Qual uma lésbica cuja companheira engravida de um homem, evidentemente e sente-se .Ou seja, a lógica da filosofia de vida dos internautas, é: "lá fora, na vida real, somos assim e assado.Aqui,na virtual, somos um para o outro".Há os que se entregam , qual a uma profissão de fé.

Todas as pessoas se sentem um pouco donas de seus companheiros.Donde a liberdade a dois é uma necessidade, mas quase um mito.Posterga-se ao outro o "ser feliz":"Somente a pessoa a quem amo, pode conceder-me a felicidade".E isso, é um engano, um erro cultural antiquíssimo, para quase todos os povos.Há muitas coisas que podem trazer felicidade verdadeira;a criatividade das artes, por exemplo.A oibra acabada.O reconhecimento.A busca, de per si.

Existe uma nova moral, inegável, após o advento da Internet.Se antes as fantasias eram extrapoladas ao traveseiro, no banheiro,inconfessáveis, agora, em frente à telinha," tudo pode".A fantasia atingiu o terreno do possível.

E, notem bem , não falo aqui de atos pornográficos, pedofilia, nada hediondo.Apenas de almas normais e sequiosas de atenção.Apenas o erotismo se desenroscando do ser, onde fôra subjugado por convenções:a serpente Kundalini, dormitava na base da espinha e, em frente a um computador, desenrola-se, sobe pela coluna vertebral do Internauta e até dança ao som da amorosidade que cria músicas hipnóticas vivas e/ou próprias.Não a serpente bíblica, que induz ao pecado.Não há pecado abaixo do Equador? Não há pecados na Internet! Pelo menos, não oficialmente.Então, a maioria, transige.O que? Depende do que quer ou pensa ou faz.Ou escreve, claro.

Uma de minhas pacientes me dizia que tomava banho, se vestia e penteava - quiçá, perfumava-se - para falar com o namorado.O encontro marcado certo e inconsequente . Enquanto o marido bruto dormia.E isso, sem contar que , do outro lado, o "amante"-aquele -que -ama talvez estivesse de cuecas, embriagado, ou precisando de banho.

Mas, muitas vezes, a energia flui de tal forma que muitos atravessam oceanos para conhecerem as musas inspiradoras, as mulheres românticas e sensuais com quem se correspondem.Os homens viris e sedutores.Às vezes, há decepções.Uma de minhas alunas da Oficina de Contos, no CCSB (*),contava-me que um rapaz de família simples, recebeu da correspondente, as passagens, e atravessou o País para conhecê-la.Ela usara recursos de fotoshop e
pareceu-lhe muito mais velha que ele.Se nos e-mails, MSN, ou antes, o ICQ, o rosto é um , ao vivo, poderá ser outro.Restou-lhe apenas a voz dela (conhecida por telefone), a amargura de ter sido ludibriado, despistada com muitos passeios e carinhos.Voltou deprimido,amargurado.

Mas há os que se apresentam quais realmente são.E se apaixonam , se entregam , se buscam.E se casam.Conheço pelo menso três casais muito bem casados, a partir da realidade que buscavam e encontraram.Fugir da mononia.Não obedecer a regras .Libertar-se.Ser.

Daqui a uns tempos, a Lei fará leis referentes a "trair sem sair de casa', trair por e-mail", falsidade ideológica essencialmente virtual, etc.Pois assuntos ,entre os quais,tais golpes dados em mulheres frágeis, já acontecem fora da telinha.

A "dura Lex, sed Lex" (**),basear-se-á nas mesmas normas, mas com setas específicas para internautas.E quando se tratar desse tipo de violência contra a mulher, ela será específica;enganada virtualmente.Chantegeada pelo internauta de nick tal...

Mas, depois desse longo parênteses, retorno ao soneto de João Justiniano.

Que trata da sensação de paz e liberdade que se experencia em frente ao computador.Da liberdade plena ("aqui,eu sonho e gozo", atesta-se o sonetista).De reviver os tempos da juventude ("o ardor da novidade', "em pleno reverdor").

E nesse redescobrir-se, ele, que no primeiro verso do primeiro quarteto, afirma que o paraíso está dentro de sua própria casa, depois reconhece mais,esse poeta alado :"Sou eu o paraíso".
Adorei, pois ritmo e precisão, João Justiniano nos mostra que a forma mais bela e simples de encontrar a felicidade, é encontrar-se.O paraíso existe e está dentro de nós mesmo!

Clevane Pessoa de araújo lopes
Poeta Honoris causa,pelo Clube Brasileiro de Língua Portuguesa

Poeta del Mundo, Z-C em belo Horisonte, MG.

Diretora Regional do InBrasCI em belo Horizonte, MG.

Delegada por MG e BA, da ALPAS XXI(A Palavra do Século XXI).

Patroness da AVSPE.

(E aqui, reafirmo:não cito a titulação, por mim , mas para homenagear as entidades que me honraram mao concedê-las- e para divulgar sua existência.

Belo Horizonte, MG,20 de janeiro de 2008

pessoaclevane@gmail.com

http://clevanepessoa.net/blog.php

http://clevanepessoa.blogspot.com

(*) CCBS:Centro Cultural São Bernardo, um dos muitos pontos culturais colocados nos bairros, pela prefeitura da capital mineira e que prestam relevantes serviços culturais às comunidades .

(**)"Dura Lex, sed Lex", em latim, "A lei é dura, mas é a Lei!)

Abaixo, "PARAÍSO":


PARAÍSO
18-01.08
João Justiniano
www.joaojustiniano.net

O paraíso está em minha casa,
aqui à frente - no computador.
Aqui eu sonho e gozo, vivo o amor
e a iluminação que o sonho abrasa.

Aqui, senhora, vem e não se atrasa,
a íntima paz de quem revive o ardor
da mocidade e em pleno reverdor,
e ainda quer voar, que o vôo o apaza.

Sou eu o paraíso. Em febre estala,
arde-me o coração e o sonho embala
como ao filho, no colo, em feriado...

O tempo não me importa, nem a idade.
A vida é simples na felicidade
de ser eu mesmo e ser poeta alado...




Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 20/01/2008 às 10h19
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