sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Lourivaldo Perez Baçan


14/07/2006 14h18
Entrevista com Baçan
Entrevista feita para o Jornal Estrutura





CLEVANE PESSOA COMENTA:
O ESTRUTURA APRESENTA UM ESCRITOR SUI GENERIS:
LP BAÇAN: "O MAGO DAS LETRAS, 900 LIVROS PUBLICADOS, GHOST WRITER. WEBMASTER DO CEN

Todos os escritores internautas que fazem parte do "Cá Estamos Nós", portal Brasil- Portugal, cujo "director", Carlos Leite Ribeiro, radialista e escritor, luso, mora em Marinha Grande, Portugal, têm algo de bom para falar do Baçan, o webmaster, que o organiza e aos sites, faz os livros eletrônicos das Bibliotecas Virtuais do CEN. Através de emails, com paciência, solidariedade e técnica, ele auxilia a realizar o desejo comum a todo escriba: editar livros.
Como as grandes editoras muitas vezes ignoram solenemente os inéditos que as procuram, desenvolveu-se, no País, uma boa quantidade de editoras pequenas, que funcionam publicando livros que os próprios autores pagam, muitas vezes sem ajudar na distribuição. Conheço casos de escritores que fazem empréstimos, no "Banco do Povo", em casas bancárias outras, mas percebem que vendem muitos volumes apenas no dia do lançamento, quando amigos e convidados - além da família, claro - vão ao coquetel... Depois, o susto: como pagar as dívidas? Os livros se acumulam em caixas, o autor começa a doar para escolas, bibliotecas, mandar pelo Correio para jornais, parentela, velhos professores. As livraria preferem trabalhar com autores consagrados, para garantir a venda. Poucas permitem que os livros sejam deixados em consignação... A esposa reclama daquela despesa feita, os filhos criticam... Se o leitor procurar o livro de Orígenes Lessa, "O Feijão e O Sonho", vai entender por quantos percalços passa um poeta que constitui família. A musa, agora esposa, perplexa porque poeta não ganha dinheiro suficiente et blá-blá-blá...
Na década de noventa teve início outra estratégia: escrever em sistema cooperativo. Juntam-se autores e pagam uma coletânea, que muitos chamam de antologia, esquecendo que "antologia" deve ser "la creme de la creme":uma seleção dos melhores textos de um autor, em geral, já consagrado, ou dos vários de uma escola, época ou País. Nesse esquema, muitas vezes ótimos autores têm o desprazer de se ver lado a lado com "escrevinhadores" medíocres, até ruins mesmo, apenas porque também puderam pagar uma cota. Umas editoras, fazem uma seletiva, com bom resultado, numa espécie de concurso - ou mesmo a mera triagem, é melhor que nenhuma. A miscelânea, com o tempo, marca a casa editorial, às vezes munida inicialmente de boa intenções. Isso é jogada de pessoas que, num país em crise, precisam ganhar dinheiro. Os autores, loucos para serem lidos, acorrem em enxames. Até porque podem pagar, na maioria das vezes, à prestação. Academias literárias têm feito certames, concursos. O prêmio, ter o livro editado, participar de uma coletânea. . . Uma corrida de touros e o "frisson" da expectativa, muitas vezes, secreta. "A Maria não pode nem sonhar que tirei um pouco de dinheiro das férias para estar nesse livro. . . Mas vou recuperar tudo vendendo". . .
Então, surgem os livros eletrônicos, e-books ou livros virtuais, como costumam ser chamados. Como disse um contista e cronista virtual, seu primeiro livro de papel continha tantos erros, que esfriou. Agora, os virtuais - e já são muitos - estão ali, podem ser passíveis de corrigendas à exaustão, via computador, a Tia Internet permitindo o vai-e-vem entre escritor, poeta e o webdesigner, numa comunhão que nem sempre o editor dos de papel - ou a simples gráfica - permitem. Um e outro, na Internet, não se conhecem, em geral. Um apadrinha o sonho. Outro bebe dessa possibilidade...
Certa vez, enviei ao CEN, meu texto sobre os Anos de Chumbo: minhas reminiscências de repórter, ao Baçan. Fiquei nas nuvens quando ele escreveu que faria dele um livro eletrônico, pelo valor histórico, algo assim. Está lá, nas BV do CEN: "Nas Velas do Tempo"(o título é uma homenagem ao verso de uma canção da compositora Leny Tristão, de Juiz de Fora, Minas Gerais). Detalhe: não cobraria nada. Ontem, fiz um ping-pong com ele, para apresentar ao leitor, essa pessoa especialíssima: possui 900 livros editados, muitos como escritor fantasma, sob pesudônimo, até com o gênero trocado...
Aí vai:

1) a) Desde quando escreve? O que escrevia inicialmente? Teve algum incentivo?
Escrevo desde meus doze anos e lá se vão mais de 40 anos nessa lida. Lia muito os livros de bolso da Ediouro, principalmente poemas e foi com eles que comecei a escrever, dentro das regras da versificação. Só na Faculdade fui entender os modernistas e perceber que o conteúdo era mais importante que a forma. Quanto a incentivos, na realidade eu escrevia de teimoso, pois em meus primeiros sonetos, publicados no jornalzinho da paróquia, ninguém acreditava que os versos eram meus. A pergunta que mais me incomodava era: de onde você copiou isso? Aos vinte e cinco, comecei a escrever para uma editora de livros de bolso (romance, faroeste, esoterismo, erotismo e todos os temas possíveis) e, aí, a motivação passou a ser escrever por dinheiro. Tanto que levei 21 anos para concluir minha novela "Sassarico".

b) Que faculdade você cursou?
Cursei a faculdade de letras anglo-portuguesas e fiz especialização em literatura brasileira.

2) a) Os assuntos esotéricos têm a ver com seu nick "O Mago das Letras"?
Não, na realidade, o nick veio pela habilidade que adquiri como escritor-fantasma de escrever sobre qualquer tema, desde assuntos esotéricos a um manual da futura mamãe, microondas, e outros tantos.

b) Como se sentia o escritor dentro de você, sem poder assinar esses livros?(*)
Era, de certa forma frustrante, mas divertido, porque eu tinha diversos pseudônimos, conforme o tema do livro, inclusive pseudônimos femininos, em séries eróticas. Segundo meu editor na época, Rubens Francisco Lucchetti, meu nome não era comercial (Lourivaldo Perez Baçan). Tive uma série de romances, 15 volumes aproximadamente, publicados com L P Baçan, que ele julgava mais comercial.

3) Desde quando passou a usar um computador para escrever? E a Internet?
Na realidade, relutei em usar o computador até a década de noventa. Minhas máquinas de escrever tinhas as teclas cavadas, de tanto que eu escrevia. Era uma trabalheira danada, pois a cada erro era preciso interromper o trabalho, apagar e datilografar novamente. Quando descobri as facilidades e as vantagens do computador, deixei de vez minhas máquinas. Na Internet, iniciei-me por volta de 1998 e fui um dos autores pioneiros a migrar para os livros eletrônicos. Tinha um site, onde disponibilizava meus textos em diversos formatos, bem como os tive editados em diversos formatos. O site E-Book Brasil foi quem me pôs em contato com essa nova forma e minha intenção, desde aquela data, foi de pôr na Internet meus mais de 900 livros escritos ao longo de 30 anos como escritor-fantasma. Falta muito, ainda, mas vou fazendo devagar.

4) Quando conheceu o Carlos Leite Ribeiro e como estão juntos no Portal CEN? (Como se deu essa parceria.)
Aprendi a linguagem html na marra. Enquanto navegava na Internet, encontrei o site do Portal e me inscrevi. Comecei trocando emails com o Carlos e, quando vi, estava envolvido na idéia de ser o webmaster. A idéia de montar uma Biblioteca Virtual foi do Carlos e, valendo-me do que já sabia sobre o assunto, aceitei e entramos nessa aventura grandiosa que, hoje, já tem um acervo de perto de 1000 livros. O mais importante é que a grande maior parte é de autores vivos, contemporâneos, que estão fazendo literatura hoje e para quem você pode mandar um email e discutir literatura.

5) Fale um pouco de você, como pessoa, da família, como escritor e como webmaster.
Sou um menino de vila, criado na periferia da cidade, em contato com a natureza, rio, pescaria, mata, animais, caçadas, futebol no meio da rua, brincadeiras de pique-salva, dim, pega-pega, pipas e tudo que as crianças de antes tinham direito. Desde cedo gostei de ler e, mesmo antes de aprender a escrever, interpretava os gibis de meus tios. Sou um tanto reservado. Pouco saio de casa, que considero meu reino e meu castelo. Gosto de música, da sertaneja até a clássica, de um churrasco, cerveja gelada, cachaça de alambique, de cozinhar, inventando pratos. Sou muito apegado a minha esposa, com quem convivo, mas sou desleixado em relação a minha mãe e a meus filhos que moram em Uraí e Londrina, respectivamente. Gosto de plantas. Dedico-me a cultivar hibiscos e, a partir de setembro próximo, vou me dedicar também a cultivar pimentas. Já reuni um bom número de sementes, de várias espécies, e só estou esperando a chegada da primavera para isso. Se alguém tiver sementes de comari, agradeceria se me enviassem. São difíceis de serem encontrada. Há muito deixei de ser perfecionista e de exigir isso das pessoas. Magôo-me com a mesma facilidade com que perdôo, mas não dou a outra face quando se trata de traição, de ingratidão e de desonestidade. Como escritor, estou devendo muito a mim. Tenho um livro já escrito na cabeça. Chama-se Olhos Mansos, mas não me sobra tempo para pô-lo no papel, ou no computador. Acho que perdi o tesão de escrever por desafio, ou por obrigação. Meu último livro, de poesias, chamado Alchimia, foi escrito em menos de um mês. Achei que me devia isso. Passei outros 6 meses polindo-o. Participei de muitos concursos, ganhei um bom número de prêmios, inclusive algumas condecorações, mas hoje o escritor está meio de lado. Como webmaster, cuido do Portal e dos sites de alguns amigos escritores que confiaram no meu trabalho. Isso não me toma tempo. O que realmente toma meu tempo hoje em dia é o trabalho de webeditor, publicando livros eletrônicos, e isso faço como uma missão. Tenho editado muitos livros com gosto, alguns sem remuneração, porque vi qualidades no escritor ou escritora e decidi que mereciam o incentivo que não me custa nada. Apenas meu tempo, mas, quando se faz algo de que se gosta, o tempo passa e o resultado final, a satisfação do autor, compensa tudo. Como sou aposentado e tenho uma renda garantida, posso me dar a esse luxo e o faço com o maior prazer.

6) O que significa o CEN para você?
Para mim, o CEN é um ponto de encontro, uma idéia que deu certo porque se tornou confiável, graças ao esforço e ao trabalho de seu idealizador e coadjuvantes. Atingiu uma penetração enorme e pode ser encontrado em qualquer site de busca. Isso demandou tempo e trabalho, mas foi uma parceria perfeita.

7) Gosta do que faz?
Sim, porque, como disse antes, faço as coisas quando gosto. Detesto ser mandado ou forçado a fazer alguma coisa. Passei parte de minha infância e da fase adulta, até os 45 anos, seguindo ordens, com as quais nem sempre concordava, mas "manda quem pode, obedece quem ter juízo". Afinal, de meus 14 anos até meus trinta e poucos, vivíamos uma ditadura, onde esse lema era prudente ser respeitado.

Nome: Lourivaldo Perez Baçan
Profissão: Aposentado"(mas como trabalha esse "aposentado"!!!
Clevane Pessoa


Publicado originalmente em http://www.clevanepessoa.net/blog.php
por clevane pessoa de araújo lopes em 14/07/2006 às 14h18
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